QUEM VÊ CARA NÃO VÊ CORAÇÃO.
De um tempo para cá venho observando que a gastronomia possui “tribos” internas entre seus profissionais. Criaram estereótipos de todos os tipos e com eles grupo se formaram, algumas vezes parecendo Lado A e Lado B de uma coisa que no final dá no mesmo: são todos cozinheiros.
Lembro-me de meados de 2014 quando um aluno calouro na faculdade veio se apresentar, falar das expectativas de fazer um curso superior de gastronomia e que para comemorar havia feito uma tatuagem no antebraço desenhado uma faca suja de sangue. Espantado perguntei a razão da tatuagem e prontamente ele me respondeu: “todo chef de cozinha tem tatuagem”. Logo lhe indaguei explicando que no momento era mais importante ele se preocupar em estudar, se capacitar e correr atrás para ser um bom profissional e depois pensar em ser “chef”. Para minha surpresa, um ano depois os braços estavam cobertos de tatuagens.
Ao posar para uma foto cruzam os braços, fazem cara de marrento, empulham uma faca. Cozinheiro precisa assustar, impor medo ? Alguns vendem a imagem de um cara sisudo, que todos tremem as pernas quando chegam, parabéns Hell´s Kitchen hoje temos pesadelos na cozinha.
O nosso uniforme de trabalho, conhecido como Dolmã deixou de ter o branco como sinal de pureza dos tempos de Escoffier, ganhou cores, mangas com texturas, faixas e botões reluzentes. Os confeiteiros por exemplo, aderiram este padrão. Dolmãs colados ao corpo, cores vivas e desenhos. Fica fácil identificar quem trabalha nesta área. Digamos que por conta do açúcar, o ambiente de trabalho deve estar mais leve e descontraído.
Recentemente acompanhei um evento de churrascos onde visualizei mais uma tribo, os “mestres da fumaça”, como tivessem saído de uma cena de filme de faroeste com suas botas e calças jeans, luvas e camisas pretas, sem falar nas barbas estilo “john lenhador”. Coitado de quem se atrever à assar uma carne sem estar devidamente caracterizado.
O que me intriga em tempos de redes sociais: o que consumimos, comida ou produto ?
Os cozinheiros agora são uma marca, uma logomarca, uma faca ou um boné. Devíamos estar degustando carnes, saladas, bolos e sobremesas mas isto foi deixado de lado. Primeiro tenho que estar dentro de uma tribo, fazer meu “nome” para depois mostrar serviço, isso se conseguir. O importante é vender uma imagem, digno de quem vê cara não vê coração.
Bela crítica… Criaram estereótipos desnecessários… Não precisa haver essas subdivisões onde um grupo exclui o outro por sua aptidão ou não… Diria que a cozinha vem perdendo a sua classe, o cozinheiro muito focado em autoimagem e pouco focado em cozinhar e assumir e dedicar totalmente ao ofício. Estamos na temporada onde as pessoas brincam muito com o marketing. Mas a cozinha mais tradicional ainda resiste nos bastidores, de pessoas formadas com a “barriga no fogão”. Não afundaremos.
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A pior parte deste post é que ele acaba.
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